Enem: sociólogos que não podem ficar de fora dos estudos

Professores dão dicas de como o fera pode estudar sociologia para o exame

por Ítallo Olimpio qua, 14/08/2019 - 10:18
Imagem: Jean-Baptiste Debret "Um jantar brasileiro (1927)" Imagem: Jean-Baptiste Debret

Com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) batendo à porta, muitos estudantes ficam com dúvidas a respeito do que estudar na reta final da prova. Para ajudar os feras a não perderem o foco, os professores Pedro Botelho e Cristiane Pantoja dão dicas de sociólogos que não podem ficar de fora do calendário de estudos. Para Cristiane, também é importante não esquecer da atual conjuntura política do país. "O Enem é ligado a ela", diz a professora.  Segundo Pantoja, não há como estudar sociologia sem passar pelos clássicos Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. 

“A religião é um sistema de forças”

Émile Durkheim, sociólogo francês, é considerado o pai da sociologia e lutou, assim como Karl Marx e Max Weber, para que a sociologia fosse aceita como ciência legítima. Durkheim é conhecido, dentre muitas coisas, por sua teoria da religião, do fato social e do método sociológico, além de seus estudos sobre democracia. 

Para Émile, os fenômenos sociais têm sua origem na coletividade e não na individualidade de seus participantes. Ele dá ênfase no surgimento e funcionamento das instituições sociais, defendendo ainda mais essa coletividade. Essa característica de generalidade, ainda de acordo com o pensador, pode ser conectado, pelo estudante, com a teoria dos fatos sociais, defendido pelo sociólogo como tudo aquilo que é exterior ao indivíduo, ou seja, que não depende diretamente das consciências individuais para tomar forma e vir à existência.

Um dos exemplos mais comuns de fato social é a religião, onde é possível notar, muitas vezes, vestimentas específicas e uma forma de pensar e de expor suas ideias que seguem um padrão. Para Émile Durkheim, um caráter de generalidade pode ser descrito no que diz respeito a esse comportamento, onde uma análise pode ser feita entre indivíduos expostos à determinada instituição e aqueles que não foram expostos a ela. 

No decorrer de seus estudos, ele vai analisar outras instituições, como a família e o meio acadêmico, e suas contribuições para a integração social, tendo como fim a preparação do indivíduo para uma rotina adulta coletiva. Ele também faz estudos com a finalidade de analisar valores, normas e padrões sociais, além de destacar os laços de solidariedade entre indivíduos.

Ao contrário de Karl Marx, ele defende que os conflitos sociais registrados no fim do século XIX surgiram por causa da ausência de instituições e normas coletivistas, e não por causa da relação capital x trabalho. 

“Trabalhadores do mundo todo, uni-vos!”

Karl Marx nasceu no antigo Reino da Prússia mas acabou passando grande parte de sua vida em Londres, na Inglaterra. Um dos principais conceitos criados por Marx é o de classes sociais, onde a sociedade se divide em quem produz e quem detém os meios de produção. Ele também foi um grande crítico à religião e ao anarquismo, o qual considerou “ingênuo”. Sua obra mais conhecida é “O Capital”, onde o sociólogo faz uma análise crítica de uma sociedade regida por ideias e conceitos capitalistas. 

O conceito de luta de classes criado por Marx está diretamente atrelado às classes sociais, onde, de acordo com ele, há uma luta contínua por objetivos contrários. Sobretudo em uma sociedade capitalista, ele analisa esses objetivos contrários com uma visão de divisão social que ocorreu devido à tomada dos meios de produção por um grupo de pessoas, chamados de burgueses, e outro grupo, explorado devido à sua capacidade e força de trabalho, chamado de proletariado.

Para o pensador, o trabalho, ao invés de realizar o homem, por meio do capital, transforma ele em um escravo. Marx também cita outras formas de escravidão (ou alienação), como a igreja ou até mesmo Estado. No entanto, a economia é a principal forma de alienação, segundo ele.

Como o Enem pode abordar a saciologia de Marx? Confira na questão abaixo:

UFRRJ/2006 - Adaptada: 

Sobre as primeiras ações socialistas, Karl Marx, no Manifesto Comunista de 1848, afirmou o seguinte: “As primeiras tentativas do proletariado para impor diretamente o seu próprio interesse de classe, num tempo de agitação geral, no período da revolução que pôs termo à sociedade feudal, falharam necessariamente por não estar ainda desenvolvida a figura do próprio proletariado e por faltarem ainda condições materiais da sua libertação, que são precisamente o produto da época burguesa.”.

 

Em relação aos primórdios do movimento operário na Europa, é correto afirmar que:

 

A) Propunham como forma de acabar com o capitalismo um regime socialista ditatorial conhecido como “Ditadura do Proletariado”.

B) Se originou na Inglaterra e buscava superar as mazelas do capitalismo por meio de um programa de inspiração claramente socialista.

C) Surgiu por iniciativa de partidos políticos social democratas com atuação regular em diversos parlamentos europeus e grande base entre os operários.

D) Se organizou em torno de um programa político revolucionário que tinha nos Bolcheviques russos a referência fundamental.

E) Foi denominado, em sua forma mais violenta, ludismo, e é associado à resistência dos operários ao capitalismo por meio da quebra de máquinas.

“Homens que dominam homens” 

Por sua vez, o alemão Max Weber é conhecido por seus estudos de sociologia econômica, sociologia política e sociologia do direito. Weber também é considerado um dos pais e fundadores dos estudos da sociologia moderna. Também é conhecido por seus estudos relacionados à sociologia e à religião, onde ele também faz uma análise das crenças ocidentais e orientais, como o hinduísmo, budismo, confucionismo e taoísmo. 

Contrariando Émile Durkheim, Weber acreditava que a sociedade poderia ser estudada e compreendida a partir das ações individuais. Em seus estudos, ele também teve como base as sociedades romanas para analisar as sociedades da Europa, na época. A frase “homens que dominam homens”, atribuída ao sociólogo, diz respeito à sua defesa de que a burocracia - leis e padrões que regem uma sociedade -, os latifundiários, a burguesia e o exército são as bases do Estado. 

Casa-Grande e Senzala

De acordo com o professor Pedro Botelho, também é de extrema importância que o fera estude sobre Gilberto Freyre, considerado pai da sociologia brasileira. Autor do clássico “Casa-Grande & Senzala”, o pernambucano critica doutrinas racistas de branqueamento do Brasil, mostrando, também, que o determinismo racial não está ligado ao desenvolvimento ou não de uma nação. Freyre passou grande parte de sua vida em Portugal, onde também analisa, sociologicamente, a colonização portuguesa. 

Do ponto de vista de Gilberto, ainda na primeira metade do século XX, europeus, índios e africanos tinham se juntado para criar uma sociedade genuinamente multirracial, multicultural e miscigenada - chamada de “democracia racial brasileira” -, em contraste com o defendido à época, que o Brasil deveria se tornar a “Europa dos Trópicos”.

Observe como o Enem pode abordar Gilberto Freyre em uma questão:

Enem (Libras)/2017: 

“A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido de aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insignificante lambujem de gente livre sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação”

FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: Record, 1999. 

A temática discutida é muito presente na obra de Gilberto Freyre, e a explicação para essa recorrência está no empenho do autor em:

A) Defender os aspectos positivos da mistura racial.

B) Buscar as causas históricas do atraso social.

C) Destacar a violência étnica da exploração colonial.

D) Valorizar a dinâmica inata da democracia política.

E) Descrever as debilidades fundamentais da colonização portuguesa.

 

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