Intolerância política e seu efeito no mercado de trabalho

Debates políticos desrespeitosos nas redes sociais podem prejudicar funcionários e empresas. 'Casos devidamente comprovados, que causem efetivos danos à empresa, podem ocasionar demissão por justa causa', alerta especialista

por Fábio Filho sex, 14/09/2018 - 11:16
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo Profissionais precisam ter cuidado ao fazer postagens na internet Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Ferramentas importantes no mercado de trabalho, algumas redes sociais podem influenciar diretamente as relações profissionais. Com o cenário político atual extremamente polarizado, esses meios digitais também vêm sendo palco de debates e discussões acaloradas. Usuários utilizam as plataformas para expor suas ideias e opiniões pessoais, atrelando seu perfil a determinadas posturas políticas. A fim de resguardar a imagem coorporativa de algumas empresas e de seus respectivos funcionários, gestores já adotam uma rígida cautela na exposição em mídias digitais.

De acordo com a gestora de Recursos Humanos Flavia Belo, a análise de redes sociais dos candidatos auxilia a traçar um perfil comportamental e psicológico do indivíduo, podendo ajudar na seleção de profissionais que se adéquem melhor à empresa e cargo, ao qual são pretendentes. “Hoje, a análise das redes sociais termina sendo uma etapa do processo seletivo para uma vaga no mercado de trabalho”, diz.

Ainda segundo Flávia, o colaborador pode expor o seu posicionamento político nos meios digitais, mas é importante que as opiniões não contenham conteúdo que possam denegrir ou interferir na imagem da empresa. “O profissional pode sim expor o seu posicionamento político nas redes sociais, mas não de forma radical. Publicações com conteúdo de qualquer natureza discriminatória são terminantemente proibidas. É importante que se tenha cuidado com certas colocações e palavras de baixo calão, para que não venham macular a imagem da empresa, nem do próprio funcionário que está ligado à ela”, afirma.

Do ponto de vista legal, medidas cabíveis devem ser empregadas em algumas situações. A advogada especialista em Direito do Trabalho, Anna Carolina Cabral, afirma que a empresa pode orientar e até penalizar os funcionários mediante posturas que prejudiquem a instituição empregadora. “Se houver um prejuízo para empresa, pode sim haver penalidade, porém essa penalidade deve ser proporcional à infração cometida. Vale falar sobre política da empresa, deixar claro que não é admitido vincular a visão política pessoal, com a visão política empresarial. Nesses casos, o mais recomendável é a orientação”, orienta. Carolina Cabral também destaca que “casos devidamente comprovados, que causem efetivos danos à empresa, podem ocasionar demissão por justa causa”.

Segundo a cientista política Priscila Lapa, esse choque de ideias que pauta as discussões nas redes sociais vem do descrédito da população com o establishment político, gerando polarização e confrontos acalorados. “Isso vem de um descrédito e incômodo da sociedade para com a classe política. Os eleitores buscam ideias salvadoras com o desejo de não se contaminar com os ideais dos opositores, o que em muitas das vezes acaba gerando intolerância”, ressalta. De acordo com Priscila, a utilização das redes sociais para fins políticos é um fenômeno que ganha notoriedade nos processos eleitorais desde que as mídias digitais passaram a fazer parte do cotidiano em sociedade. 

“Desde que as redes sociais ganharam protagonismo na sociedade, os debates políticos começaram a ser mais incisivos nas plataformas digitais. As eleições passadas já tiveram consequências e em 2018 esse fenômeno ganha uma força singular”, afirma.

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