Após confronto, alunos repensam estratégias de mobilização
Após o protesto mais violento desde o início do movimento contra a reorganização escolar da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), os estudantes decidiram repensar as estratégias de mobilização. O receio é perder o controle com a infiltração de black blocs nos atos de rua, sobretudo após o confronto com a Polícia Militar de quarta-feira, 9.
Heudes Oliveira, de 18 anos, aluno da Escola Estadual Fernão Dias, em Pinheiros, na zona oeste da capital, acredita que a presença de black blocs prejudica a imagem do movimento. "Estamos avaliando novas ações, novas estratégias de protesto em que a gente tenha mais controle", diz. "Foi desnecessária a confusão. A manifestação estava acabando depois de quatro horas pacíficas. Os estudantes já estavam dispersando."
No ato de quarta-feira, black blocs entraram em confronto com a PM na frente da Secretaria da Educação, no centro. Dez pessoas foram detidas.
Oliveira disse que, apesar de insatisfeitos com a proposta de Alckmin de suspender a reorganização da rede - os alunos querem o cancelamento -, há "divergências" no grupo quanto a manter ou não os colégios ocupados. A escola foi a primeira invadida na capital e se tornou símbolo de resistência estudantil, após ser cercada por PMs.
Os alunos da Escola Maria José, na Bela Vista, região central, também vão discutir novos rumos para os protestos, por temer que tumultos com black blocs atrapalhem. "No protesto, por exemplo, eram muitos fazendo baderna", diz o estudante Caio Freitas, de 18 anos.
A Escola Silvio Xavier Antunes, no Piqueri, na zona norte, foi desocupada ontem, após 28 dias. "Cumprimos o papel de pressionar o governo. E atingimos o objetivo imediato, de não fechar a escola", diz a aluna Dafine Cavalcante, de 17 anos, que pretende retomar a mobilização em 2016.
Violência
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os dez detidos - seis menores - foram liberados no mesmo dia após um Termo Circunstanciado por desobediência. Um dos adolescentes foi detido por um segurança do Metrô na Estação da Sé com pedras na mochila. Ele negou que tivesse praticado vandalismo e foi liberado.
Além dos alunos, a repressão da PM foi alvo de críticas de grupos que acompanharam a ação. "Dos protestos de 2013 (contra o aumento da tarifa de transporte) para cá, a PM evoluiu pouco, não sabe dialogar", diz Frederico (que não quis revelar o sobrenome), do Movimento Passe Livre, que esteve no ato.
PMs ainda invadiram o Teatro de Arena Eugenio Kusnet, no centro, e agrediram três jovens, segundo relatos. Em nota, a Funarte, responsável pelo teatro, repudiou "a ação arbitrária e violenta" da polícia. "Foi brutalidade", diz o diretor Eugênio Lima, que estava no local.
Necessária
A SSP manteve o posicionamento de quarta-feira, em que classifica a ação da PM como "absolutamente necessária", e não se manifestou sobre a invasão do teatro. Segundo a pasta, a "atitude de grupos de manifestantes deixou clara a motivação política e criminosa, com diversos black blocs com o rosto encoberto, integrantes da Apeoesp e pessoas ligadas a partidos políticos".
A Apeoesp, maior sindicato docente, acusa o governo de "criminalizar" a entidade e ameaça ir à Justiça contra as acusações "irresponsáveis". O ouvidor das Polícias do Estado, Júlio César Fernandes, vai pedir à Corregedoria da PM e ao Ministério Público que investigue a ação dos policiais - incluindo a invasão do teatro - e a infiltração de black blocs no ato.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.