O íntimo dia a dia de profissões no Dia do Trabalhador
Motorista de ônibus e porteiro são duas funções que muito contribuem para o fluxo de pessoas. O Portal LeiaJá traz, neste Dia do Trabalhador, o perfil de representantes das duas profissões, que esbanjam simpatia e orgulho pelo que fazem
Uiractan: a arte de ser um mestre da simpatia em meio ao caos da cidade
Todos os dias, junto com os primeiros raios solares da manhã, o motorista de ônibus Uiractan Batista sai para o trabalho, no bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife. O homem leva consigo a alegria estampada no rosto, porque gosta do que faz. Quando chega ao trabalho, é cumprimentado por todos, pois é um dos motoristas mais conhecidos e carismáticos da linha Transcol. Também durante a viagem, é constantemente abordado com sorrisos e cumprimentos, tudo isso pela sua fama de “gente boa”. “Eu amo o que eu faço, não há emprego melhor no mundo”, fala Uiractan, com um grande sorriso.
A viagem começa cedo no terminal de ônibus do Alto Santa Isabel, no Recife. Às 6h, Uiractan já está pronto nas ladeiras do alto para dar partida, às 6h30, na primeira viagem do veículo de número de ordem 533. Alguns passageiros sobem nas primeiras paradas do “motor” e são recebidos calorosamente com um “bom dia” dado em alto e bom som. Mas, a maioria entra no “ônibus da alegria” durante o percurso de 24 quilômetros que faz, entre bairros como Casa Amarela, Graças, Espinheiro e Boa Vista. O veículo é intitulado dessa forma, como o nome já diz, pela simpatia que toma conta dos seus 12 metros de comprimentos.
Uiractan Batista é uma exceção à regra da vida urbana: sempre sorridente, em meio ao trânsito caótico da cidade. Em poucos minutos de conversa, o motorista reafirma seu amor – já explícito nas suas atitudes – pela profissão. “Desde criança eu quis ser motorista. Eu me sinto realizado dirigindo e vou honrar a profissão enquanto eu estiver nela”, afirma. Alguns passageiros sobem no ônibus, no bairro de Santo Antônio, dizendo: “Só podia ser você, Uiractan!”.
Os quilômetros vão passando e a situação se repete: em cada parada ou semáforo no vermelho, alguém fala com Uiractan, de assuntos desde saber o itinerário do ônibus, como perguntas sobre a vida pessoal. Simpaticamente, Uiractan interage com os passageiros e confessa que já fez amigos. “Nesses 14 anos que trabalho somente nesta linha, já fiz muitos amigos. Eu sou feito tomate de feira, todo mundo conhece”, conta aos risos
Em tempos de festas, como carnaval, São João e Natal, Uiractan traz uma alegria a mais para os percursos realizados. O “passatempo da viagem” são os enfeites temáticos colocados no veículo. Desde plumas e bandeirinhas a presentinhos e imagens de papais Noel, Uiractan compra todos os adereços. “Eu compro e a empresa paga tudo, porque ela apoia minhas ideias”, explica.
Uiractan realiza, ainda, outras duas viagens. Às 8h30 e às 11h20 ele parte do terminal do Alto Santa Isabel, sempre com a mesma alegria e disposição. “Quando eu ‘pego’ no ônibus, a regra é minha”, conta Uiractan. Em uma viagem, ele abre a porta do veículo para um senhor, desinformado, que está fora da parada. “Eu faço isso porque ele pode estar atrasado para o médico”, relata. A intuição de Uiractan foi certeira. Quando subiu no ônibus, o homem desinformado disse não saber que o ônibus não parava mais no local onde estava e que já estava perto da hora de ir para o médico, no Hospital das Clínicas.
Considerado herói por muitas pessoas, Uiractan segue os dias amando a profissão e sempre ajudando os passageiros no que lhe compete. Um dia após o outro, seu trabalho é cada vez mais reconhecido. “Ganhei, semana passada, um prêmio da Urbana-PE como o melhor motorista do Brasil. Foi uma homenagem linda”, conta com orgulho. Ao final da entrevista ao LeiaJá, às 10h30 de uma quarta-feira, no terminal de ônibus, ele pega um pote dizendo. “Agora que acabou, está na hora de comer. De barriga cheia, a viagem é bem mais alegre, não é?”, brincou. Às 13h30 o dia de Uiractan acaba no trabalho, para, no outro, começar ainda mais feliz.
Confira o depoimento de Uiractan:
O trabalho por trás das portarias
No alto da torre que controla a entrada e saída de todos que frequentam um edifício no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, está o porteiro André Rodrigues, 40 anos. De lá de cima, cerca de três metros elevados do nível do asfalto da rua, o homem olha atenciosamente para as câmeras de segurança do prédio. “A responsabilidade é grande. Tem que ter compromisso aqui porque se trata da segurança das pessoas”, conta Rodrigues, com olhar atento voltado para a TV que transmite as filmagens de várias áreas do edifício.
Às 6h, o porteiro sai do bairro da Mustardinha, na Zona Oeste da Cidade, em direção à Zona Norte. Por volta das 6h30, ele chega ao seu destino. Acomoda suas coisas no espaço de três metros quadrados da “torre de controle” do edifício e vai trocar de roupa. Devidamente uniformizado, começa o seu trabalho. Nas primeiras horas da manhã, muitas pessoas entram e saem para ir ao trabalho ou estudar. “Abre aí, por favor” é uma frase constantemente ouvida por André, que está sempre a postos para abrir os portões.
Por se tratar de um emprego que lida com pessoas o tempo todo, vez por outra há os contratempos. “Tem que ter calma e muita paciência, pois cada pessoa é um mundo diferente”, explica André, sorrindo. Mesmo assim, o porteiro é querido pelas 36 famílias que vivem nos apartamentos cômodos de uma área nobre da cidade.
O dia a dia de André Rodrigues é assim há cerca de 11 anos, oito deles como zelador, antes de ser promovido ao cargo de porteiro. Com esse tempo, ele já conhece tudo e todos do edifício. “Eu gosto muito do meu trabalho, já estou acostumado ao local e às pessoas”, diz.
Às 19h, o trabalho no edifício acaba. As pessoas já têm chegado ou estão chegando em suas residências e André está indo de volta para casa.