O lugar onde simples atividades são motivos de felicidade
Comunidade localizada no Recife acolhe crianças abandonadas com deficiência mental. Lá, quem vive essa realidade comemora qualquer atividade pedagógica, a mais simples que seja, como uma aprovação no vestibular
As palavras saem da boca com dificuldade e às vezes até a comunicação gestual é dificultosa. Para alguns, a locomoção não é fácil, além de ser clara a dependência para atividades básicas, como um simples banho. Porém, nenhuma dessas situações impede crianças e adolescentes de demonstrarem o quanto ficam felizes ao desempenharem brincadeiras e atividades pedagógicas. São ações que derrubam o “murro de limitações” que existe entre elas e as pessoas sem deficiência mental. A felicidade é expressa conforme as possibilidades físicas e mentais de cada um, porém, nenhuma deficiência consegue esconder o sorriso no rosto deles.
Essas cenas são comuns na Comunidade Rodolfo Aureliano, a Craur. Inaugurada em 1994, a instituição é ligada ao Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria da Criança e Juventude. A unidade fica situada na Rua do Bom Pastor, no bairro do Engenho do Meio, Zona Oeste do Recife. Sua missão é acolher crianças e adolescentes abandonadas, portadoras de deficiência metal, bem como aquelas que as famílias não reúnem condições de cuidar.
De acordo com a diretora da unidade, Demelsita Alexandre de Andrade, atualmente a Craur conta com 43 acolhidos, a maioria adolescentes oriundos de cidades da Região Metropolitana do Recife e de municípios do interior do Estado. Desse total, 21 crianças ainda estudam no sistema da educação especial, porque o grau de deficiência de grande parte dos abrigados é considerado grande. “São crianças e jovens abandonados, com sérios graus de deficiência mental. Eles chegam aqui através de ordem judicial ou pelo Conselho Tutelar. Nossa missão é fazer com que eles voltem para suas famílias, porque é importante estimular o vínculo familiar. A grande dificuldade é encontrar os familiares para propiciar o retorno dessas crianças à sociedade”, explica a diretora.
Apesar de ainda estudarem no contexto da educação especial, em que os alunos deficientes não interagem com outros estudantes sem deficiência, os abrigados da Craur passam por atividades pedagógicas dentro das possibilidades de cada um. São oficinas lúdicas, festas, brincadeiras, e, principalmente, a aula de música. No projeto desenvolvido pelo professor Manoel Antonio de Santana, a habilidade musical é trabalhada entre os acolhidos de uma forma em que eles toquem do jeito deles. A proposta resultou, inclusive, no nome da banda: Tocando do Meu Jeito. Assista no vídeo:
Segundo a psicóloga Tereza Gurgel, qualquer atividade que garanta o bem estar e trabalhe as potencialidades das crianças com alto grau de deficiência mental é considerada importante. “A proposta é trazer o bem estar e qualidade de vida para os garotos, de acordo com as potencialidades deles. Por terem déficit mental grave, não significa que eles não tenham condições de propiciar outras atividades. Elas são importantes para o desenvolvimento comportamental e cognitivo dos meninos”, explica a psicóloga.
Em Pernambuco, a Craur é a principal referência para acolhimento de crianças e jovens com deficiência mental. De acordo com a supervisora técnica da Comunidade, Viviane Wanderley Cavalcanti, durante este ano, aconteceram apenas dois retornos de acolhidos para suas famílias e uma adoção. Os números podem parecer pequenos, mas, Viviane explica que, por causa da complexidade das deficiências, dificilmente aparecem pessoas dispostas a adotarem crianças. “Quando acontece um caso de adoção ou retorno para as famílias é uma grande vitória para nós, porque sabemos o quanto é difícil conseguir um vínculo familiar com os meninos”, ressalta a supervisora.
A coordenadora de supervisão da Comunidade, Lourdes de Sousa, explana que as crianças apenas voltam para suas famílias quando elas têm condições de recebê-las e continuar o tratamento que é feito na Craur. “A gente faz todo um acompanhamento e sempre dizemos para os familiares que é muito importante reinserir os meninos na sociedade como membros das famílias que eles são”, destaca. A Comunidade tem cerca de 130 funcionários, entre terapeutas, enfermeiros, cuidadores, educadores sociais e o pessoal de serviços gerais. De acordo com a Secretaria da Crianças e Juventude, o custo do Estado com a Craur gira em torno de R$ 320 mil por mês.
Volta para casa
A dona de casa Marleide de Morais, de 75 anos, é avó de Lucas da Silva, 12. O garoto possui deficiência mental e física, e está acolhido no Craur há pouco mais de um ano. O menino passa por tratamentos e teve experiência com várias atividades pedagógicas. Segundo a avó, Lucas está bem melhor e pronto para voltar para casa.
“Aqui é muito bom e ele melhorou muito. O Lucas é um menino calmo e sempre foi minha companhia, desde pequeno, quando a mãe abandonou ele. Estou muito contente porque vou levar meu neto de volta para casa e com certeza vou continuar o tratamento”, conta dona Marleide.
Para os interessados em fazer doações:
Comunidade Rodolfo Aureliano (Craur)
Rua do Bom Pastor, sem número, Engenho do Meio, Recife
Telefone: (81) 3183-0752