Incerteza sobre diploma preocupa estudantes brasileiros
Em Londres, estudantes não sabem se conseguirão concluir os cursos
Depois de um ano de estudos na London Metropolitan University (LMU), em Londres, o jornalista brasileiro Jonas Oliveira, 27 anos, entregou nessa sexta-feira (31) a dissertação de mestrado. "A universidade tem evitado dar informações precisas", disse ele. Jonas Oliveira é um dos 35 estudantes brasileiros afetados pela decisão do governo britânico de desautorizar a universidade a fazer pedidos de vistos para que alunos de fora da União Europeia possam estudar na Grã-Bretanha.
Com a decisão, anunciada nesta semana, mais de 2 mil estudantes da universidade, de diversas nacionalidades, correm risco de serem deportados. Eles terão prazo de 60 dias para serem aceitos por outra instituição, que possa bancar seus vistos, ou deixar o país.
No caso de Jonas Oliveira e de outros alunos que estão concluindo o mestrado, os vistos seriam válidos até fevereiro de 2013. "Eles deveriam receber o diploma em dezembro, mas muitos foram à secretaria da universidade perguntar o que vai acontecer, se realmente vão receber o diploma, e receberam a mesma resposta: 'Não sabemos'", disse Diego Scardone, diretor executivo da Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores no Reino Unido (Abep).
"Os estudantes que nos contataram até agora estão perdidos, sem saber o que vai acontecer. Estamos tentando avaliar caso a caso, para tentar coordenar uma ação conjunta."
Jonas Oliveira, que pagou 10 mil libras (cerca de R$ 32,2 mil) pelo mestrado em sports management, iniciado em setembro do ano passado, reclama da falta de informação. "Ficamos sabendo de tudo pela imprensa", disse. "No domingo passado, o jornal Sunday Times publicou uma matéria, e a universidade em seguida mandou um e-mail desmentindo. Na quinta-feira, a notícia saiu em outros jornais, e a universidade então enviou outro e-mail reconhecendo que era verdade."
Segundo ele, a situação é pior ainda para os alunos que iniciaram o mestrado em fevereiro e, portanto, não sabem se poderão concluir. "Há exatamente um ano, eu estava a seis dias de viajar para cá. Já tinha deixado meu emprego, pago pelo visto, por moradia universitária", recorda. "Imagino quem está nessa situação hoje."
De acordo com Diego Scardone, no caso dos estudantes de graduação, o cenário é ainda mais grave, já que, caso não consigam trocar de universidade, podem ser deportados e perder o investimento já feito no curso no exterior. "É muito difícil conseguir transferência [para outra universidade] do segundo para o terceiro ano [de graduação]", disse Scardone.
Nessa sexta, a Abep enviou uma carta ao ministro britânico da Imigração, Damian Green, na qual condena a decisão e chama a atenção para o "impacto devastador" sobre "milhares de estudantes internacionais, muitos deles brasileiros".
"A ameaça de deportação, a incerteza sobre o futuro, e o risco de que os investimentos de muitas famílias e indivíduos sejam jogados pela janela depois de muito trabalho árduo são totalmente inaceitáveis", diz o texto.
A associação lembra que o governo brasileiro pretende financiar os estudos de até 10 mil alunos em universidades britânicas como parte do Programa Ciência sem Fronteiras.
"Esta decisão arbitrária pode gerar incerteza sobre os benefícios de trazer estudantes brasileiros ao Reino Unido e questionamentos sobre se vale a pena promover intercâmbio com um país onde estes estudantes não são bem-vindos ou respeitados", diz a carta.